Neste livro, escrito em primeira pessoa, conhecemos a cineasta ESFIR CHUB por meio de um relato fascinante. Através dele, entramos em contato com as ruas, os cheiros, a poesia, a literatura, o teatro e o cinema de Moscou a partir de 1918, ainda no calor da Revolução de Outubro.
Sua paixão pelo cinema transpira em todo o livro graças ao estilo de sua escrita detalhada, como se fosse um roteiro, que expõe claramente suas perspectivas, métodos e parcerias de trabalho.
E nós da Kinoruss, nos esforçamos para enriquecer este ensaio autobiográfico com imagens inéditas e históricas.
Para conhecer melhor esta edição sem precedentes, disponibilizamos um trecho e imagens do miolo abaixo.
Leia o que chub escreveu:
Lembro-me de um dia cinza, já quase no inverno. A recepção estava fria. Entra Stanislávski. Alto, esbelto. Tinha uma cabeça bonita. Uma vasta cabeleira prateada e grandes sobrancelhas pretas. Olhos brilhantes e quase sorridentes. Não conseguia desgrudar meus olhos maravilhados dele e, nos primeiros minutos, compreendi mal o que ele dizia.
Naquele dia o TEO [Departamento Teatral] receberia ainda dois visitantes extraordinários. Veio Fiódor Chaliápin. Vestia-se de forma tão artística que parecia estar prestes a iniciar um concerto. Sentou-se e repousou o chapéu de feltro com abas largas sobre os joelhos e, sobre ele, luvas de couro amarelas. Uma madeixa de cabelos lisos e claros caía sobre sua testa. Que representação fiel fez Serov em seu famoso retrato! Sentado, ele aguardava ser recebido com uma pose livre e pitoresca. Você olha e pensa: “é um grande artista”; não havia outra definição. Pouco depois, eu o ouvi em um concerto no conservatório. A plateia estava repleta de novos espectadores. Como o ouviam! Como acolhiam! Depois de Dubínuchka, ouviu-se um estrondo sem precedentes de aplausos, assovios, chamados, saudações. Nunca, até o fim dos meus dias, consegui compreender como Chaliápin conseguiu viver e morrer longe de sua pátria, de seu povo que o amava arrebatadamente.
(p. 83-84)
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